domingo, 3 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 4

Reviravolta no caso
Devo confessar que a visita mais esperada do ano era pra Tatiana Freire, neuropediatra especializada em déficits de aprendizagem, a quem outorgam o título de bam-bam-bam em neuropediatria aqui em Zumpa.  Tatiana também estava na Alemanha concomitantemente a Paula, talvez também defendendo alguma tese.
Durante a consulta, Tati bateu um carimbo no meu dossiê. O carimbo era redondo, na parte cima, abaulada, estava a palavra REVIRAVOLTA, no centro dizia MUDANÇA DE PLANOS e, na parte de baixo, a côncava palavra VIDA NOVA.
Ela disse que Guy pode bem ter algum grau de autismo, ou bem um simples atraso no desenvolvimento, pois por suas atitudes, mais parece uma criança de um ano. Qualquer que seja o diagnóstico, ele precisa começar IMEDIATAMENTE, assim, bem frisado, a fazer Fonoterapia, Terapia Ocupacional e Equoterapia, a do cavalinho.
Neste momento meu cérebro experimentou um blecaute, desses que duram milésimos de segundos, e quando volta, volta totalmente reprogramado. Imediatamente entendi – e aceitei – que Guy não poderia mais voltar pra sua casinha. Onde moramos não tem nem escola direito, que dirá essas terapias todas e claro, eu irei buscar pra ele o que há de melhor em Fono, T.O. e Equo. O que há de melhor não poderá estar em São Jorge dos Ilhéus ou cidades circunvizinhas pois se fosse o melhor - raciocínio lógico - não estaria ali.
Ato contínuo, restava apenas decidir quem ia ficar com Guy, pois estamos, justamente neste momento, abrindo uma loja em casa. Não poderíamos abrir mão disso pois provavelmente o tratamento do Guy demandará muito dinheiro e alguém terá de trabalhar nesta família. Então, Breno ficará cuidando da loja, e eu fico com Guy em Soro tratando, estudando, vivendo enfim. Ou fico eu na loja e Guy vai pra Salva com Breno pra poder tratar, estudar, viver enfim. É claro, todos sabem quem trabalha nesta família, fica fácil saber qual decisão será um consenso entre nós.
Outra figura que muda é a questão do café. A cafeteria se dissolveu de meus planos com a mesma facilidade de um café solúvel na água quente. Ora, todos sabem que um comércio de alimentação te escraviza. Eu não posso me dar ao luxo de despender todo o meu tempo e energia num negócio e negligenciar minha presença ao lado de meu turutu. Preciso imediatamente alterar meu projeto e decidir por um empreendimento que me permita maior flexibilidade de horário.
Claro que tudo isso deverá passar por um período de adaptação, não sabemos como será a pegada da loja, nem como será a pegada das terapias e da escola. Além de que, desejamos que quem ficar com Guy na Babi possa também trabalhar, pois, afinal, ninguém quer ficar de papo pra cima, a não ser que as atividades com Guy impossibilitem MESMO qualquer outro ofício, o que não creio.
Isso tudo fixou-se em minha cabeça, tão logo meu cérebro voltou do blecaute instantâneo em frente a médica. Olha, me desculpe os mais sensíveis, eu sou muito prática. O que tem que ser feito tem que ser feito, sem choro nem vela. No máximo um post no blog pra curar a dor, um porre de vinho com a dinda. Ainda em frente a médica eu derrubei uma lágrima. Não por Guy, pois eu acredito absolutamente em seu desenvolvimento, não acredito em autismo, conheço meu filho, sei do que ele é capaz, e sei que ele É capaz. Mas sim por um ciclo de minha vida que se encerrava assim, sem avisar. Era a morte do ancião.





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