quinta-feira, 28 de julho de 2011

Doenças e terapias pra ricos

Ontem Guy começou namusicoterapia.
Enfim uma atividade que nos anima instantaneamente.
Leonardo, o gordinho de barbicha, além de musicoterapeuta é psicólogo, e parece entender do que está fazendo.
Pareceu entender o caso do Guy com clareza e até atende alguns casos como o dele.
Breno em particular ficou muito empolgado com a relação de Guy e Leonardo. Na primeira, ele conseguiu atrair a atenção do Guy, coisa que nenhum terapeuta conseguiu.
A musicoterapia é que nem remédio de planta, é bom pra tudo. Quem não se sente bem ouvindo uma boa música? Leonardo explicou que a lesão do Guy é localizada, e a musicoterapia é universal (pensando no cerebro neh). Ela mexe com inúmeras áreas do cérebro, hemisfério esquerdo e direito, e que as partes que funcionam bem, serão impulsionadas a fazer o trabalho da parte que funciona mal. Confesso que maior do que a fala, minha preocupação é em relação a intelectualidade de Guy. Se ele será capaz de atribuir signos, se será capaz de aprender, e de se expressar, seja lá como for. Pesquisando na net, li que é altamente recomendada para casos de autismo, lesão no cerebro e dificuldade na fala em crianças. Enfim, acreditamos na musicoterapia acima de tudo.
O problema é a facada. Eu que tava achando caro as sessões de cavalinho, 70 paus cada, duas vezes por semana, o gordinho pegou no âmago. 140 pau e recomendou duas por semana. Ou seja, mais de mil reais por mês. Começamos, sem saber como faremos pra pagar. Breno fala em diminuir uma sessão de equo. Embora não resolva nosso problema $.
(Estamos realmente em dúvida. A equoterapia seria mesmo pontual pro caso de Guy?)
Enfiim, acho um absurdo deixar de fazer qualquer coisa de terapia que possa ajudar Guy por causa de dinheiro, então vou marcando tudo. Mas na hora H, como? Sem o qualquer?

terça-feira, 26 de julho de 2011

concha plage




Métodos pra enfiar o cara no 'esquema'

Não existe coisa mais eficaz pra enfiar papais alternativos dentro do esquema da 'sociedade', do que a escolinha.
Primeiro que a escolinha do Guy, no caso, teve que ser na capital, o que arrastou dois jipes véios e maltratados para o asfalto lisinho e cheio de falta de buracos.
(o engraçado é que a diretora da escola tem uns dentões de ouro.....srsrsr)
Depois vem a tal da lista de material. Lá vai nós pras lojas Americanas. No xópim!
Lancheirinha do Carros 2 eu me recusei. Pomba (leia-se porra!!! - com exclamação), 80 pila numa lancheira. De jeito maneira! Comprei uma quentinha em forma de pintinho e pronto, vai dentro da mochila - que também não é de super-herói.
Queria achar uma mini-térmica, mas não há. Então comprei uma garrafinha com rosca e tampa de copinho.

UNIFORME (que aqui chama farda...ai que palavra sugestiva) - tá, tá, vá lá, que num gasta a roupa de passear. Mas pomba, 130 pila por duas bermudas e duas regatas? (o uniforme aqui na bahia é regata)

LANCHE, todo dia. Pensar numa coisa. Tem que ser saudável, gostoso, fazer o suco de fruta, um dia bolo, outro dia banana, outro dia sanduíche, outro dia....iogurte....outro dia.....hummmm....

REUNIÃO INDIVIDUAL. Bem. O lado bom é que é individual. Vai ser bom pra explicar o caso de Guy e orientar a pró (fessora). O lado ruim é que deve haver, num futuro próximo, a reunião coletiva....ai! Será que eu consigo encarar? Não vou não vou e não vou.

CONVITE DE ANIVERSÁRIO. Tudo bem também. Agora, um por semana!!! Que POMBA...eh essa, se eu comprar presente pra todo mundo num sobra pros presentes do Guy.
O que? Tem que mandar? Affff
Vamos combinar assim, a cada aniversário agente faz um deposito num cofrinho próprio,em vez de dar presente, daí quando for aniversário do seu filho, você quebra o cofrinho e compra um monte de presentes legais. Ah? Prefere ficar ganhando as porcarias que os outros pais compram?...Putz, tá bom. Vou logo avisando que vou comprar no 1,99.

Nossa, acaba de me ocorrer uma coisa. Pior do que ter tantos aniversarios. Isso quer dizer que quando for aniversário do Guy......a meu Pai! que  saco!
Tem que fazer duas festas? Ah, uma em casa outra na escola, sei.
Não, já sei, vou dizer que Guy faz aniversário no Natal.
Ah, num dá? tá lá no registro dele, sei.
Resumindo gente, não tem jeito, fui socada dentro de uma caixa quadrada com tampa e agora to quadrada também.
Com certeza não pára por aqui....

sábado, 23 de julho de 2011

Mamãe subiu no telhado

Bem, agora é a minha vez.
Eu e Breno estamos nos aprofundando mais no estudo do caso do Guy.
Descobrimos a palavra AFASIA e fomos esmiuçar tudo o que ela nos traz.
Nestes estudos, estamos descobrindo que o caso de Guy é muito mais grave do que imaginávamos. E isso está levando a mim, desta vez, a cair na fossa. Medo, insegurança, culpa são algumas das palavras que explicam minha profunda tristeza.
Breno por sua vez, acompanhando as explicações dos terapeutas, está entendendo melhor seu papel no desenvolvimento de Guy e reage com sua habitual força de vontade, insistência e otimismo.
E está tentando levantar a mim da depressão.
Eu to no remédio pra dormir, por mim, tomaria o remédio cada vez que acordasse.
Mas tem o sorriso do Guy que preenche meus buracos negros.
E tem Breno, que pode ter um monte de defeitos, mas sempre foi muito responsável com as coisas de Guy, e muito caxias com as orientações médicas.
O que faltava pra ele, quando escrevi o post anterior,era ouvir dos médicos o que eu tinha ouvido. Agora ele ouviu, entendeu, e está novamente em seu papel de super pai.
E Super marido, pra tentar curar a mim também.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Papai - inércia crônica

Estou aqui na escola do Guy. Ele está lá dentro brincando e eu, aqui fora, pronta pra socorrer, e também pensando em todas as questões que rodeiam seus desenvolvimento.
Vejo cada vez mais que o atraso do Guy é muito grande, além da fala. Guy praticamente não se comunica com o mundo, não entende o que falamos, só quer brincar sozinho, e não parece querer dizer alguma coisa, seja lá qual for a linguagem. Lendo artigos sobre o caso, um detalhe ma chamou atenção, dentre inúmeras causas, a prostação de quem convive com ele pode ajudar e muito, a não falar.
Estou prestes a deixar Guy aqui em Salvador com seu pai, sem mim por alguns dias, e isso repetidamente. Ou seja, Breno estará mais presenta na vida de Guy do que eu pelos próximos 5 meses. Mas a postura dele está me fazendo repensar a decisão. Breno está totalmente prostado. Claramente depressivo e com baixíssima alto-estima. Além de parecer não ter entendido o grau do problema do Guy, não entendeu que seu papel na convivência com ele é fundamental. Quando se propõe a brincar com Guy, não faz mais do que ficar sentado do lado dele, olhando pro nada, sem perceber que Guy está mergulhado em brincadeiras autisticas. Eu falo de cá, conversa com ele Breno. Então ele acorda, Fala duas ou três palavras, e mergulha novamente em, seu silêncio.
A verdade é que estou acordando para a real situação de Breno e me parece que ele também está precisando de cuidados.
O retrato de Breno hoje é um adolescente, que não quer ouvir bronca, quando está em casa quer ficar 'descansando', e não sabe o que vai fazer da vida. Só que ele não é um adolescente, é um adulto de 31 anos, com filho e obrigações, e é cobrado constantemente por isso. Quanto mais cobrado, mais drama faz, mais se vitimiza, mais se afunda em sua prostação.
Breno está tão preocupado com nosso relacionamento quanto eu estou preocupada com Guy. E como estou full time preocupada com Guy, não estou dando a mínima para nosso relacionamento. Quanto mais eu explico pra ele que temos que nos concentrar no Guy, "mais drama faz, mais se vitimiza, mais se afunda em sua prostação".
A postura que ele está tomando não ajudará Guy, e não ajudará a melhorar nosso relacionamento.
Quanto mais ele se mostrar inócuo, mais vou ter que repensar sua posição nos planos com Guy. Não sei o que fazer, estou meio assustada com as descobertas, com a inércia de Breno que se mostra crônica. Não poderei confiar a ele o desenvolvimento do menino, tampouco posso separar os dois. Breno precisa urgetemente se levantar e acordar para a vida.

sábado, 16 de julho de 2011

Gabi, Você é demais

Querido Gabi
Escrevo para te deixar tranquilo em relação a Guy. Ele começou na escola esta semana e foi tudo bem. Não chorou e nem reclamou. Fica a manhã toda com a tia Karina e brincando com os brinquedinhos. Tem um parquinho de areia e um escorrega.Como você já tinha ensinado ele a escorregar (lembra, lá no Parque Chico Mendes) ele lembrou e escorregou.
Nâo se preocupe quanto a merenda, pois a lancheira está voltando vazia. Ele come tudo sozinho, sem precisar de ajuda. Eu mando bolo, panetone, sanduíche, iogurte...ele acaba com tudo. Játá de uniforme e mochilinha. Segunda feira tem a primeira festinha de aniversário que ele vai ver na escola.
Obrigada por ter cuidado do Guy com tanto carinho


Um bejão da gente e logo estamos aí de novo.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Aconteceu em Sorocaba


Esse texto caracteriza-se melhor no Meu ser Caótico, mas está enredado na história do Guy, por isso deve ficar aqui.
A capoeira é um dos raros lugares que freqüento atualmente onde eu fico mais próxima de mim. Numa certa quinta-feira, fiz uma aula que acabou comigo. O mestre era meu Mestre Lucas, mais mestre do que nunca.
Ele foi me cansado, me cansando, quebrando minha guarda, marcando golpes fatais. Eu saí andando meio torta.
Eu queria sugerir que ele encontrasse um tratamento na acupuntura para ajudar Guy a soltar o verbo. Ele sugeriu que eu me curasse.
 Me fez ver o peso que tem cinco gramas e num passe de mágica, eu enxerguei o cenário por cima.
Entendi de verdade que a raiz da solução está em mim, no meu equilíbrio, na minha sinceridade e na minha calma, no altruísmo. Na fé principalmente.
Aquele aspirante a bruxo soltou uma meia lua no meu queixo e se saiu. Doeu, mas foi bom. Como na roda de capoeira, na vida agente aprende apanhando mesmo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 8

Empatou?
Antes de partir de Sorocaba, fomos levar a RN pra Paula Preto. Observou que há uma lesão do lado direito e do lado esquerdo do cérebro, sendo a do lado esquerdo maior (alguma semelhança com o diagnóstico do terapeuta das energias) e que sim, este quadro seria responsável por algum grau de autismo se houver, e que sim, que este quadro e o senhor responsável absoluto por seu atraso na fala (ao contrário da explicação  da Tati). O local onde está a pequena hemorragia é responsável, entre outras coisas, pela linguagem. As outras coisas são todas referentes a intelectualidade, ou seja, aprendizado. Paula e Tatiana concordam num ponto: o remédio. Fono, T.O. e equoterapia, escola normal, seja lá qual for o diagnóstico.
Ele vai falar? Pode ser que sim, pode ser que não, tem até os seis anos pra desenvolver a linguagem. Vai depender das terapias e de Deus. Ok, façamos as terapias e vamos também procurar Deus, ver quanto ele cobra, e começar.
***
Ele é autista? Não sei, quem sabe? Ninguém sabe, só o tempo dirá.
Temos que procurar uma opinião pra desempatar? Pode ser.  Pode ser também um caminho inócuo, pois de qualquer forma o tratamento é o mesmo. A Tatiana nos indicou uma neuropediatra em Salvador, que foi indica pelo seu professor lá do HC de SP. Nayara é o nome da fera, não sabia o sobrenome, mas não deve ser difícil achar pois neuropediatra é uma espécime em extinção. Breno conseguiu encontrar e ligou lá. Mais do que em extinção, sua pele é valiosa. Não aceita convênio algum, sua consulta custa 700 pila e só tem pra novembro.  O vovô falou que ele tem que ter sim um neuro orquestrando todo seu tratamento.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Vida nova ao Rei

A Escola
Primeiro dia de aula de Guy. Não, péra, não deve começar assim.
O começo deve ser da seguinte maneira:
Fui fazer a matrícula de Guy . Enquanto sentava diante da diretora, Breno levou Guy para conhecer sua possível futura sala de brincar. Denise, que é a cara da Regina Duarte, explicava pra mim sobre o período de adaptação. Que nos primeiros dias a mãe ou o pai tem que ficar na escola e tal, daqui a pouco Breno voltou sem Guy. Cadê ele? Perguntamos. Ficou lá, respondeu.
***
A pequena escola fica pertinho de casa, mais fácil a pé que de carro. Agradou por ser pequena, mais pessoal.
***
Um fenômeno
No dia seguinte, agora sim, o primeiro dia de aula de Guy, levei o menino pela mão até a sala de brincar, de uniforme, mochilinha e tudo. Entrou sem olhar pra trás, observei um pouco, depois fui ali ficar de fora.
Eu fiquei lá no banco do parquinho, esperando ouvir a mãnha de Guy me procurando, e nada aocnteceu. Fiquei olhando pra cima, olhando pro nada, desejando uma revista, um livro, uma bula, qualquer coisa pra ler. Curiosa pra espiar o guri. Nada acontecia. Pensei no meu  netbook. Quando fui avisar que iria buscar em casa, a pró Karina (em São Paulo seria tia Karina) veio com um papelzinho. Anota aqui seu telefone, se precisar eu te ligo. Olhei assim meio sem querer entender. Ele ta tranqüilo, se precisar te ligo.Tá bom então. Fui pra casa e ninguém nunca mais me ligou.
***
Hoje, o segundo dia, Guy entrou garrado na minha mão. Daí viu a Maria dentro da casinha de bonecas. Entrou atrás da Maria sem lembrar que tinha mãe. E eu parti.

Macio, meu amigo

Ontem foi um dia de grandes estréias. Além da escola, a expectativa era grande para a equoterapia. Fomos de buzú até o Parque de Exposições. La dentro, andamos muito até chegar a sede da Polícia Montada. Em território inimigo (brincadeirinha)  funciona, num esquema de parceria, a Associação Baiana de Equoterapia.
A Abae é uma instituição sem fins lucrativos, que atende pessoas com necessidades especiais ajudando-as a conquistar sua independência.
Equoterapia, um procedimento geralmente caro,  oferecida gratuitamente em Salvador. A demanda é grande, para iniciar uma sessão, é preciso enfrentar uma fila de espera de 300 pessoas, o que pode levar alguns meses, nos quais você fica torcendo pra alguém desistir, ou pra faltar três vezes sem justificativa e poder ser substituído por uma pessoa mais interessada.  Para ajudar nas despesas, quatro turnos foram reservados para atendimento particular – pago. Guy está num desses.
(Engraçado que havia uma equoterapia em Vila do Atlântico, se chamava Jaguar e, dizem, é num lugar de beleza exuberante. Mas fechou por falta de demanda.)
Marília veio nos atender. Adorei este nome. É a Terapeuta Ocupacional. Magra como um pau e de cabelos vermelhos  como o pôr do sol. Marília fez a avaliação e logo chamou Guy pra o cavalo.
Junto com ela tem dois assistentes, que, desculpe a falha, não me lembro os nomes. Um jovem e um coroa parecido com o Morgam Freemam.  Todos três esbanjando uma energia tranqüila e positiva. Marília apresentou Guy a Macio, um cavalo baixinho. Guy foi montado em Macio e, quando esboçou reclamar, Macio começou a andar. Com um leve sorriso, Guy esqueceu de dar bronca e fez uma viagem muito prazerosa em torno do campo de equitação. Nós ficamos de longe, só olhando, morrendo de orgulho de nosso pequeno cavaleiro. Agente via Guy agarrando o jovem, sorrindo pro coroa, tentando entender oque dizia Marília. Foi uma interação total. Guy adorou o lugar, tem muitos brinquedos, tem uma rampa que ele gosta de subir e depois descer na banguela. Macio foi gentil, parece ser bem maduro o cavalinho.
Saímos de lá felizes e contentes. Guy veio pra casa, brincou de massinha e dormiu cedo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 7

Guiando um 7A
Bem, conforme orientação médica, Guy começou prontamente na Fonoaudióloga. A tia Pida é paga pra brincar com Guy. Tentar extrair dele mais informações e certa amizade. Bem, ela disse que de vez em quando é bom deixar Guy com alguém – sem a mãe. Disse que Guy não tem traços claros de autismo – ela lida com autistas de todos os graus. Disse que não podemos mais o deixar brincar sozinho, temos que tentar fazer qualquer brincadeira que ele queira, a dois. Disse pra comprar giz de cera, boneco pra comparar as partes físicas, brinquedo de montar e encaixar. Estamos fazendo tudo isso. 
Uma coisa que todas elas perguntam é se Guy já come sozinho. Não, não come. Mas não come porque nunca tentei ensinar ele a comer. Daí me acendeu – mais uma vez – a luzinha da culpa. Eu nunca tive muito jeito com criança. E continuo não tendo. Não sei brincar nem estimular. Muita coisa além do garfo e colher eu não tentei ensinar. Eis que fui dar a colher na mão dele. No primeiro dia ele já aprendeu a levar a colher na boca – claro, com ajuda pra não errar o alvo. Ao fim de uma semana, já ia buscar ele mesmo a comida no pratinho. E vendo que a colher não estava suficientemente cheia, labutava pra tentar equilibrar o máximo de comida possível pra não perder a viagem. 
Além disso, senti muita evolução no pimpolho neste último mês – em que ele voltou a civilização. Ele está mais receptivo para os adultos, ficou até no colo da tia Nanda, e também do Kilo....adora o Kilão – disseram as línguas afiadas que é porque ele se sentiu mais em casa.  Não sei, pra ele o Kilo é o máximo da diversão. 
O vovô foi o grande contemplado. Guy vai lá ao quarto, pega o vovô pela mão e o leva pra sala num claro convite pra brincar. Não quer deixar o vovô dormir e fica todo faceiro na frente dele. Pida disse que este não é um comportamento de autista. Outra coisa é perceber a bronca, ficar de castigo, se chatear e tentar agradar quando brigo. Tudo isso são migalhas que juntamos para crer que ele está acima de qualquer desconfiança clínica.
A próxima lição da tia Pida é o banho. Mostrar o pé, a mão, comparar com a minha. Ir guiando lentamente esta via 7ªA  neste paredão rochoso em positivo que está sendo o aprendizado de Guy.



Tecla SAP: 7ª A é um grau de dificuldade para vias de escalada (alpinismo). Guiar um sétimo grau é difícil pra mim, escaladora amadora, mas não impossível.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 6

Morde e Assopra
Quando voltamos pra Tatiana com o laudo da RN, ela disse que estava tudo normal, Guy não tinha nada no cérebro que pudesse explicar seu déficit de aprendizagem.  O que, tecnicamente, não exclui o autismo pois, autismo não dá em exame. Mas de qualquer forma, (assim como disse a Paula), um diagnóstico de autismo não se fecha antes dos quatro anos de idade. Disse que Guy só precisava mesmo era de estímulo, que era de suma importância a escola e as terapias, principalmente a equo, e que assim ele recuperará seu déficit e será um menino normal.
Essa gente quando bate, alisa depois, e quando alisa, depois bate, agente fica que nem barata tonta. No telefone, procurando uma colega neuropediatra em salvador ela disse: é pra um menino autista que quero mandar pra ele. Guenta coração!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 5

(parêntesis pra explicar a morte do ancião)
Quer dizer, já não era sem tempo de mudança, eu sabia que iria mudar tudo cedo ou tarde. Mas como todos sabem, cedo ou tarde nunca é agora. Deixa ver se me explico.
É como um ancião querido da família na iminência de morrer, não por doença, mas por ser ancião. Você sabe que ele não vai durar muito, mas não pensa que pode ser já. Então você vai viajar e, no meio do passeio, recebe a notícia de seu falecimento. Embora conformada, dói não poder vê-lo mais, não poder ter despedido, não poder estar do lado dele em seu leito de morte. Não ter dado o último abraço. Dói.
E a dor de sua morte vai doer pra sempre, ele não vai voltar mais. Aqui está encerrado um grande ciclo ao lado de Breno. Sei disso pois agora vou ressurgindo para mim mesma, e ao final deste processo, não haverá mais espaço pra maridinho em casa, controlando até a posição que devo dormir, fazendo almoço, lavando a louça e tirando a sesta. Não que tenha sido ruim, que tempo maravilhoso foi esse, mas não nasci pra isso. Não nasci para morrer em vida eterna. Acho o casamento tradicional uma coisa retrógrada, atrasada, careta. Entenda, não é de Breno que abdico, amo aquele canalha, mas do casamento sim, com certeza e definitivamente. Doa a quem doer.
(fecha parêntesis)




Olha que gorduraaaaaaaaaa




domingo, 3 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 4

Reviravolta no caso
Devo confessar que a visita mais esperada do ano era pra Tatiana Freire, neuropediatra especializada em déficits de aprendizagem, a quem outorgam o título de bam-bam-bam em neuropediatria aqui em Zumpa.  Tatiana também estava na Alemanha concomitantemente a Paula, talvez também defendendo alguma tese.
Durante a consulta, Tati bateu um carimbo no meu dossiê. O carimbo era redondo, na parte cima, abaulada, estava a palavra REVIRAVOLTA, no centro dizia MUDANÇA DE PLANOS e, na parte de baixo, a côncava palavra VIDA NOVA.
Ela disse que Guy pode bem ter algum grau de autismo, ou bem um simples atraso no desenvolvimento, pois por suas atitudes, mais parece uma criança de um ano. Qualquer que seja o diagnóstico, ele precisa começar IMEDIATAMENTE, assim, bem frisado, a fazer Fonoterapia, Terapia Ocupacional e Equoterapia, a do cavalinho.
Neste momento meu cérebro experimentou um blecaute, desses que duram milésimos de segundos, e quando volta, volta totalmente reprogramado. Imediatamente entendi – e aceitei – que Guy não poderia mais voltar pra sua casinha. Onde moramos não tem nem escola direito, que dirá essas terapias todas e claro, eu irei buscar pra ele o que há de melhor em Fono, T.O. e Equo. O que há de melhor não poderá estar em São Jorge dos Ilhéus ou cidades circunvizinhas pois se fosse o melhor - raciocínio lógico - não estaria ali.
Ato contínuo, restava apenas decidir quem ia ficar com Guy, pois estamos, justamente neste momento, abrindo uma loja em casa. Não poderíamos abrir mão disso pois provavelmente o tratamento do Guy demandará muito dinheiro e alguém terá de trabalhar nesta família. Então, Breno ficará cuidando da loja, e eu fico com Guy em Soro tratando, estudando, vivendo enfim. Ou fico eu na loja e Guy vai pra Salva com Breno pra poder tratar, estudar, viver enfim. É claro, todos sabem quem trabalha nesta família, fica fácil saber qual decisão será um consenso entre nós.
Outra figura que muda é a questão do café. A cafeteria se dissolveu de meus planos com a mesma facilidade de um café solúvel na água quente. Ora, todos sabem que um comércio de alimentação te escraviza. Eu não posso me dar ao luxo de despender todo o meu tempo e energia num negócio e negligenciar minha presença ao lado de meu turutu. Preciso imediatamente alterar meu projeto e decidir por um empreendimento que me permita maior flexibilidade de horário.
Claro que tudo isso deverá passar por um período de adaptação, não sabemos como será a pegada da loja, nem como será a pegada das terapias e da escola. Além de que, desejamos que quem ficar com Guy na Babi possa também trabalhar, pois, afinal, ninguém quer ficar de papo pra cima, a não ser que as atividades com Guy impossibilitem MESMO qualquer outro ofício, o que não creio.
Isso tudo fixou-se em minha cabeça, tão logo meu cérebro voltou do blecaute instantâneo em frente a médica. Olha, me desculpe os mais sensíveis, eu sou muito prática. O que tem que ser feito tem que ser feito, sem choro nem vela. No máximo um post no blog pra curar a dor, um porre de vinho com a dinda. Ainda em frente a médica eu derrubei uma lágrima. Não por Guy, pois eu acredito absolutamente em seu desenvolvimento, não acredito em autismo, conheço meu filho, sei do que ele é capaz, e sei que ele É capaz. Mas sim por um ciclo de minha vida que se encerrava assim, sem avisar. Era a morte do ancião.





sexta-feira, 1 de julho de 2011

Saga de Guy - Cap 3

(parêntesis para falar sobre Ruben)
A dinda, muito inclinada a prestar apoio ao picolo, ofereceu levá-lo a Ruben, um terapeuta que ela está freqüentando, também em sua infindável busca pela cura. Era noite, tipo umas oito horas, Guy chegou dormindo, ainda bem. Ruben fez uma pequena entrevista e partiu para examiná-lo.  Examinar seu campo energético. Ele colocava a mão sobre a cabeça de Guy, sem tocá-la. Alguns minutos passaram, levantou a cabeça em minha direção. Seus olhos estavam vermelhos e molhados. Tocado pela notícia que me daria a seguir. Falou pausadamente. Entre uma frase e outra, pausa para tomar fôlego e para certificar-se do que falava, sentindo Guy mais um pouquinho.
Seu filho tem uma lesão no cérebro. Uma do lado direito, outra do lado esquerdo. Ele vai ter um retardo no crescimento.  Quando ele tiver dez anos, terá idade mental de cinco. A parte direita do cérebro está menos danificada. Isso significa que ele é uma pessoa que tem muita sensibilidade na natureza. Ele se sente bem na natureza, ele se comunica melhor com os elementos da natureza do que com as pessoas.
Eu estou tentando fazer a conexão do seu campo energético com seu campo físico, mas não estou conseguindo. Deixa tentar explicar, é como se nosso cérebro fosse feito de eletricidade. Em uma pessoa normal (não entendo esta palavra) é como se visse uma cidade de cima, com todas as lâmpadas acesas. Guy tem alguns pontos escuros, desligados. Nestes pontos não há conexão entre o campo energético e o campo físico. Eu estou tentando forçar uma ligação, mas não estou obtendo sucesso. Seria bom se você fizesse uma tomografia (já estava marcada) para verificar o tamanho desta lesão, mas de qualquer forma seu filho terá um retardo importante no crescimento. Nós podemos trabalhar Guy no campo energético para ajudá-lo, mas o tamanho da lesão vai nos dizer a extensão do sucesso da terapia. Ou seja, se a lesão for pequena, a coisa está mais no campo energético do que físico, e a terapia funcionaria bem. Se a lesão for grande, a terapia será limitada.
Imagina eu e a Bocão na frente dele, ouvindo tudo isso. As lágrimas rolando bochecha abaixo, minha comadre segurando firme em minha mão.
Rubem faz uma pausa maior em sua explicação, enquanto continua examinando Guy. A próxima palavra que ele diz é: que interessante! E continua examinando
De repente está tudo ligado! Preciso tomar uma água - disse Ruben e sentou-se. Ele puxou toda minha energia. Eu nunca vi isso. É como se as lâmpadas estivessem todas ligadas, a conexão perfeita entre energético e físico, eu nunca vi isso. Demoraria anos pra alcançarmos este resultado.
Totalmente leigas e ansiosas, eu e Revi debruçamos duas dúzias de perguntas pra poder entender, ao que ele sempre respondia Eu não sei. Nunca vi isso. Trabalho com isso há mais de dez anos, inclusive fazendo atendimento social com crianças, mas nunca vi isso. Se eu examinasse ele agora, diria que é um menino absolutamente normal.
Ruben estava desconcertado. Pediu pra que retornássemos quando tivéssemos em mãos o laudo da tomografia.
Guy do jeito que chegou dormindo, saiu dormindo. Eu e Revi, um misto de sentimentos contraditórios. Preocupadas com o ‘laudo’ inicial, e felizes com o resultado final, como se entre um sentimento e outro tivesse passado dez anos. Eu saí rindo e chorando ao mesmo tempo. O riso era de nervoso, e a lágrima, de alegria.
Fomos pra casa dela, conectar. Tomamos um vinho, desabafamos um pouco, rimos um pouco. Guy ficou ali, brincando sozinho com um terço indiano por quase duas horas.
(fecha parêntesis)



aqui meus primos paulistas