quinta-feira, 30 de junho de 2011

Saga de Guy - Cap 2

The Begin       
         Parecia que não, mas passou. E chegou o dia em que retomamos a casa. E também em que tomamos o avião. Em Soro, comecei imediatamente a visitar os médicos, todos.
A primeira que visitamos foi a neuropediatra Paula Preto. CDF com jeitinho de doida, acabara de voltar da Alemanha onde defendeu sua tese de doutorado.  Paula conhece Guy desde que nasceu, sabe todo seu histórico. Entrevistou, observou, pediu Ressonância e Eletro. No final da consulta disse que ele realmente parece autista.





Nossa jornada em Soro contaria ainda com inúmeras visitas a médicos. Neuro, endócrino, pediatra, outro neuro, gene, oftalmo, fono, outro fono, todos. Fui até em Ruben, um terapeuta de cura interior.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Saga de Guy - cap 1

 O leite grosso da ignorância
Enfim, aqui estou. Ou melhor, aqui estamos nós.
Foram longos meses de sentimento desamparado e insegurança, sem casa nem roupa lavada e enfim, posso ver o portão de saída. Este post deveria se chamar My new life.
O blog Meu pé de Jaca  foi criado inicialmente para registrar as venturas e desventuras desta pessoinha que chegou em minha vida há pouco mais de dois anos. De um tempo pra cá eu parei de escrever por vários motivos, já até falei sobre isso anteriormente. Eu tinha que falar de Guy, mas como fazer isso sem botar o dedo na ferida. Por algum tempo quis ignorar todos aqueles sinais, esse foi um dos motivos da ausência no jardim das jaqueiras.
Foi numa bela tarde de sol na Praia do Forte que a coisa começou a tomar figura. O vôvo Paulo, que não é médico nem nada, olhou com desconfiança as atitudes e desatitudes de Guy. Guy já alcançava pra lá de ano e meio, não falava nada (como até agora não fala) e também parecia não gostar de interagir com outras pessoas –seja gente grande ou gente pequena. Falou na palavra autismo, que foi fortemente rechaçada por mim. Lembro de ter dito que autista era ele. Injustiça pura, ele estava apenas preocupado. Vôvo Paulo não é médico mas teve muito ‘mininu’, como se diz na Bahia, e podia ver que algo não soava bem.
                Alguns meses depois vovô Cesar veio nos visitar e, já avisado da desconfiança do outro vôvo, passou os 15 dias observando. Saiu deveras preocupado.
                Todos concordavam num ponto muito importante: Guy deveria entrar urgentemente para uma escola. Mas, numa dessas jogadas infelizes de Breno, nossa casa estava alugada e o que restava para nós era um sítio – distante, ermo, inóspito, sem vizinhos ou escola, sem transporte ou condução.

Nestes dois meses ratificou-se o isolamento de Guy, sua aversão a pessoas (no plural) e seu entrosamento com a natureza. Guy passava o dia a brincar com pedaços de paus, pedras e folhinhas. Provocava moitas, sentava na beira do rio e ficava longo tempo contemplando. Fugia sempre em direção à água. Passava da praia ao rio, do rio à praia. Não dava trabalho. Regra geral foi gostoso, não digo o contrário. Brincamos de plantar, de cuidar da terra, de pegar camarão, de pegar onda, de dormir baixo ao céu estupidamente estrelado, de fazer fogueira. Mas seria melhor se fosse por opção, e não por falta dela.
                Quanto ao quadro de Guy, eu olhava apreensiva, mas em silêncio, pois não havia nada a fazer por enquanto. A casa seria devolvida em junho, e em junho eu tinha passagem marcada pra Soro. Até lá, assistimos ao passar do tempo, banhados pelo leite grosso da ignorância.