segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cadê meu ser caótico?


Mamães que leem este blog, respondam-me por favor, por onde anda o ser que vos habitava antes de tornarem-se mães?
Eu ia andando pela rua meio tranquilamente, portando um tripé e uma câmera. Ia fazer as fotos de uma livraria na orla e Guy ficou com Breno. Carla, uma colega nossa, mãe de dois filhos pequenos (Caléu de 9 meses e Rudá de uma ano e meio) ia passando de bike, meio apressada, com os pães.
Cadê o Guy, perguntou sem parar a bike. Tô sozinha hoje, livre!!!. respondi entusiasmada. E ela: ai que delícia!!!
Imagino que pra Carla a conotação de 'estar sozinha' deve ser muito maior pois ela, com dois pimpolhinhos, deve conseguir este feito com muito menos frequência.

Continuei minha caminhada rumo à livraria. Como seria bom se nós mães pudéssemos dar-nos mais a este deleite: ficar sem os filhos. Cheguei no local das fotos, o portão fechado, as janelas cerradas, ainda era manhã. Não serei impertinente em bater e tirar as meninas do sono, ou forçá-las a receberem-me de pijamas. Dei meia volta e pensei: vou aproveitar pra fazer alguma coisa e....
Que coisa? que posso fazer nessas duas horas de liberdade? Aí me deparei com um muro. Eu nao tenho nenhuma idéia, a não ser voltar pra casa.
Quero dizer....fico rezando pra Guy pegar no sono e quando ele dorme fico feito barata tonta pela casa, procurando o que fazer, sem no entanto encontrar. Finalmente ligo a internet e vou ler, escrever, pesquisar, mas o fato é que sem vigilância, acabei sumindo, por um tempo que já nem sei mais como calcular. E hoje, no meu tempo livre, me senti vazia como há muito não sentia. (Desculpem minhas queridas amigas, vocês a quem eu sempre preguei a liberdade total e o respeito integral às próprias vontades)
Sem vigilância, o ser caótico que me habitava escapou ante a paisagem bucólica do casamento.

(Mas ele, a entidade do movimento, não deve ter ido muito longe, vou já buscá-lo).

O vovô eterno faz a passagem


Vai em paz Bizo,
Te recordamos com carinho,

a importancia que teve em nossas vidas
manda um cheiro pra Vovó, dí-lhe de nossa saudade

Olha por nós

nós que temos que viver

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Retrato para posteridade


29/07/09

Ontem foi muito legal. Nós acordamos as sete e você já tinha feito 3hs de jejum. Tomou o remédio e ficou lá embaixo com teu pai enquanto eu preparava o café. Depois você mamou. Nós tomamos um banhão gostoso debaixo do chuveiro, papai te vestiu um macaquinho fresquinho. Neste dia agente tava meio na pindaíba, tínhamos dez reais e decidimos: no lugar de comprar uma bandeja de frango, compramos uma siripóia.

Ao invés de ficarmos todos encorujados, mamãe varrendo, papai cozinhando e depois todo mundo passar o resto da tarde dormindo, fomos para o pontal pescar siri. Era comida, lazer e diversão na certa. Fomos os três de moto até a balsa onde conhecemos o seu João Sirilo, um senhor forte, firme e cego, que conversa olhando no olho. Ele é lá da Mata Grande e combinamos de tomar um café na casa dele qualquer dia desses.
Bem, compramos a siripóia e teu pai pegou umas catrevagens de peixe na peixaria. Atravessamos de canoa, era meio dia, veja só! E você protegido pela sombrinha de Dona Antonia.
Arrumamos a sombrinha na areia feito guardassol, esticamos a canga, ajeitamos o travesseiro e te acomodamos.
Papai lançou a siripóia e a festa começou. O dia estava lindo, quente e gostoso, pegamos muitos siris. Papai tomava um baile pra desgarrar o siri da póia, foi muito divertido. Eles queriam fugir e teu pai cercava, jogava areia em cima deles, pelejava. Eu derrubei o balde dos siris, todos saíram correndo e foi uma luta só, mas não perdemos nenhum. Você dormiu um pouco e eu fui tomar um banho. Depois te levei na beira do mangue, você adora a natureza e o barulho dos pássaros, o brilho da água e até o vento no rosto você adora. Quando acabou, estávamos tudo e todos devidamente cheios de areia, levantamos acampamento e subimos na balsa.
Em casa você logo quis mamar e dormimos os dois. Quando acordamos teu pai tava de banho tomado e, no fogão, uma bela moqueca de siri. Tinha um vivo que pegou no dedo de seu pai, ele chacoalhou, o siri bateu no teto e saiu correndo pela casa. Agente lá em cima só ouvindo a confusão e dando risada.
Eu comi uns 4 ou 5 siris, teu pai uns 7 ou 8. Nos lambuzamos todo, foi outra bagunça. Tava uma delicia, proteína gostosa, divertida, temperada com o orgulho de termos pego nós mesmos. Seu pai avisou todo mundo inclusive. 'Olha o siri que peguei!'
Tomamos outro banho e seu pai foi passear com você pra eu poder lavar a cozinha. Você tomou um suco de lima na chuquinha e dormiu. Teu pai e eu fizemos amor e dormimos gostoso. Foi um dia incrível, yes, nós nos amamos, yes, nós sabemos pescar, sabemos viver.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Quem sou eu

Eu sou uma mãe, como qualquer outra mãe. Que deixa de ser quem é, algumas horas do dia, alguns dias da semana, alguns meses no ano. Quando nao sou poeta, sou piegas. Pra ser um clichê, sou leoa. Nao fugi de mim, nao desapareci - quero crer. Estou empenhada em dar amor a quem dei a vida. Uma aventura como tantas outras. A mais especial porem. Volto a ser eu quando posso dormir, quando posso sonhar, e nas vezes que posso decidir sozinha. Ainda ando de moto, ainda escalo, pedalo, jogo capoeira, atravesso o rio, me banho na fonte. Ainda volto aos índios. Tenho ainda uma mochila e uma rede. Ainda bebo, ainda fumo, ainda leio, trepo ainda. Mas porem contudo todavia, carregando minha jaquinha. Craquenta, viscosa, grudenta, gostosa, deliciosa, unguenta. Cheirosa, nutritiva, pesada, calorica. A jaca minha.